jueves, 12 de mayo de 2016

Gerações, democracia, golpe parlamentar e luta

Eu nasci em liberdade (ao menos no comecinho dela)!
Fui concebido e nasci durante a campanha dos "diretas já" em 83-84.

Em Maio de 1985, quando ainda não tinha nem um aninho e era bem bonitinho, o congresso aprovou a eleição direta para presidente, o direito ao voto para os analfabetos, a liberação de partidos considerados "comunistas" ou "socialistas", entre outras deliberações.

Era um bebê de 4 anos quando nasceu uma criatura frágil e delicada, mas formosa: a democracia representativa brasileira através da constituinte. E desde então venho crescendo, aprendendo e flertando com essa dona democracia. Eu e milhares de brasileiros viramos jovens, e alguns chegaram a ser adultos, entendendo que - dentro dos limites, condições e contradições dessa nossa jovem democracia - podíamos atuar e fazer escolhas, podíamos tentar decidir nossos rumos e lutar pela sua realização por vias legais.

Minha geração viu a luta ideológica sair do plano das relações internacionais, com a queda do muro de Berlim, e viu também surgir o primeiro grande ciclo de governos (presidentes, governadores e prefeitos) considerados "de esquerda" subirem ao poder em diversos países do nosso continente, inclusive aqui no Brasil.

Foi a minha geração - baseada nas experiências e aprendizagens dos grupos anarquistas do começo do século XX, nos questionamentos das décadas de 60-70, nas práticas de luta e demandas dos movimentos populares e obreiros do final do século passado - que ampliou na casa, na escola, na rua e nos espaços virtuais os debates sobre gênero, machismo e patriarcalismo, democracia participativa e processos de tomada de decisões, preconceito e descolonização, diversidade e tolerância, marginalização social e classes sociais, micro relações de poder encadeadas.

Minha geração é diversa e variada... Como toda geração! Mas nasceu e se desenvolveu dentro de um quadro democrático minimamente estável.
Mas acontece que minha geração não nasceu sozinha nesse mundo. Não! Não nos demos conta, ou nos demos conta muito depois, que o processo de transformação das sociedades é lento e combina diversos resquícios de outros períodos.

Não nos demos conta que na verdade, apesar das aparências, nesses 30 e poucos anos as correias de transmissão do poder continuaram sendo as mesmas de antes, os mesmo grupos (agora um pouco mais sofisticados), as mesmas famílias e sobrenomes, os mesmos preceitos, a mesma geração passada.

Nos enganamos... E também nos enganaram!

Em uma entrevista, Bordieu diz que "juventude" é apenas uma palavra, mas que por trás dessa simples palavra existe uma luta por campos de poder entre as diferentes gerações.

Minha geração, que nasceu junto com a democracia brasileira, vem vivenciando nos últimos meses uma nova forma de usurpação do poder por parte das antigas gerações conservadoras.

Atônitos assistimos aos maiores representantes do povo brasileiro, deputados e senadores da república apoiados pelos grandes veículos midiáticos e pelo judiciário, articularem e levarem à cabo um plano pseudo-legal para tirar da presidência a primeira mulher brasileira a chegar nessa cadeira.

Em ciência política isso se chama golpe de estado. Mas é um golpe branco, limpo, que se realiza através do jogo processual parlamentar. O uso da força física e da violência fica reservada para as ruas, enquanto que no congresso a velha geração tenta manter a aparência de lisura, legalidade e imparcialidade do processo. É o terceiro golpe parlamentar que temos na história recente do nosso continente.

Vem se esquadrinhando um futuro complexo para minha geração. E mais complicado: já existe uma geração mais nova que a minha surgindo... São os filhos da minha geração. Nossos filhos, meus filhos.

E é por essa nova geração que está nascendo e se desenvolvendo que muitos e muitos de nós declaram:
VAI TER LUTA!

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